
Ex.mo Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Municipal, Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal,
Ex.mas e Ex.mos Senhores membros da Mesa,
Ex.mas e Ex.mos Senhoras Vereadoras e Senhores Vereadores, Ex.mos Membros da Assembleia Municipal,
Ex.ma Senhora e Ex.mos Senhores Presidentes de Junta,
Ex.mas e Ex.mos Representantes das Autoridades e Entidades Oficiais, Ex.mas e Ex.mos convidadas/os
Caras e caros Munícipes,
Cidadãs e Cidadãos,
(O Bloco de Esquerda presta sentida homenagem ao trabalhador da Câmara que faleceu, em resultado de um acidente, e ao membro desta Assembleia, Carlos Vargas.)
“Eles não sabem, nem sonham Que o sonho comanda a vida (...)”
Estávamos em 1969. Manuel Freire conseguia fazer passar, por entre as malhas da censura, o poema “subversivo” que assim começava, no saudoso programa televisivo Zip Zip, uma lufada de ar fresco, que – qual florinha frágil a irromper por fresta de rocha dura – guardo com gratidão, no espaço da memória.
A incultura dos censores aliada às necessidades da “primavera” marcelista permitiu a chegada ao canal – que só não era único porque a RTP2 se tinha iniciado 5 meses antes – de Almada Negreiros, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, Carlos Alberto Moniz... Claro que Zeca Afonso e Natália Correia, esses estavam banidos a priori.
Imagina-se o malabarismo do Solnado e restante equipa do Zip Zip para conseguir fintar a censura, de modo a que o programa se tivesse aguentado sete meses, sete!...
Perguntava-se ao “vento que passa, notícias do meu país. E o vento cala a desgraça, o vento nada me diz”. No quarto do fundo ou na cozinha às escuras procurava-se, avidamente, contrariar o silêncio transportado em rajadas de vento: escutava-se, baixinho, na onda curta da telefonia, as rádios da resistência exilada a anunciarem que a Liberdade havia de passar por aqui...
Quem não tinha acesso ou a coragem de ler às escondidas, sempre às escondidas, a imprensa clandestina, podia almejar a respirar um pouquinho da brisa suave e fresca que escapava, também ela, por entre as malhas da censura, no jornal “República”, no Jornal do Fundão, no jornal cor-de-rosa que era o Comércio do Funchal, ou nas entrelinhas do Diário de Lisboa... e até, com um pouquinho mais de esforço, nas do Diário Popular. Do vento [que] cala a desgraça escapava um cheirinho de alecrim, de uma festa que haveria de ser bonita, pá.
“(...) sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança”
Não sei como naqueles tempos, pintados de cinzento, podem ter deixado que se escapasse a utopia do sonho, se a parte do sonho a que Portugal tinha direito era, tão só, o pesadelo...
O pesadelo de trabalhar o dia inteiro, construir as cidades pr ́ós outros, carregar pedras, desperdiçar muita força p ́ra pouco dinheiro...
O pesadelo diário da “Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada”.
O pesadelo da guerra colonial, porque "o soldadinho não volta do outro lado do mar. E quando o soldadinho já volta, está quase mesmo a chegar, vem numa caixa de pinho...”
Plenos de generosidade e de muito querer, os capitães de Abril deram o passo decisivo, corajoso, para libertar Portugal do pesadelo. O 25 de Abril deu asas ao sonho. Com todos os erros que não se omitem, mas se compreendem – porque só quer a vida cheia quem teve a vida parada – e até oportunismos de quem não esteve à altura, o Processo Revolucionário que esteve Em Curso correspondeu a uma genuína vontade popular de caminhar no sentido de um Portugal mais justo. E só se dão passos para um Portugal... e um mundo mais justo, se se acreditar na utopia de um mundo novo.
Mas, como sói dizer-se, Abril está por cumprir à conta dos que, cantando loas ao 25 de Abril, puxaram Abril para trás.
A quem escapasse ao pesadelo da prisão e da tortura da PIDE, podia calhar- lhe em sorte “A morte [que] saiu à rua num dia assim, naquele lugar sem nome para qualquer fim...”
Os doutrinadores do sistema capitalista não precisam de grandes teorias para nos convencer da “bondade” de um sistema que dizem ser capaz de se autorregular. O poder financeiro autorregula-se tanto, que cada vez mais são maiores no mundo as assimetrias entre a meia dúzia dos super-ricos e os restantes mais de 99% da população mundial. O fosso entre ricos e pobres aumenta, naturalmente, também em Portugal. A pandemia foi e vai continuar a ser uma desgraça para a maioria e uma bênção para quem, sem escrúpulos, ganhou, e muito, à conta dela.
Há quem diga que a crise é uma janela de oportunidade. É verdade que a ciência e a tecnologia trazem indubitáveis benefícios. Mas depressa se viu como o capital, sem escrúpulos, explorou a janela de oportunidade, dissimulada no reverso da medalha. Qual varinha mágica, o lay-off e o teletrabalho levaram à “descoberta” de novas e ardilosas formas de exploração. Tal como outrora, “vêm em bandos, com pés de veludo, chupar o sangue fresco da manada...”
Abril continua por cumprir em muitas vertentes, desde a falta de habitação à precariedade no emprego e os baixos salários.
As alterações climáticas são cada vez mais um problema sem solução à vista. Com toda a certeza, vamos ter de continuar a recomendar à Rosalinda que, em óleo sujo à beira mar”.
A falta de respostas mais ousadas e incisivas, por parte do poder, sobretudo, à crise económica e social agravada pela pandemia, fazem com que, no mundo e, naturalmente, em Portugal, haja largas camadas da população descontentes com a política.
A falta de uma saída pela porta grande, abre a porta dos fundos, num convite enganador para a desgraça maior que é regressar aos velhos tempos,... com outras roupagens.
Não passarão!!!...
25 de Abril sempre, fascismo nunca mais! Viva a República!
Viva Portugal!